Blog

Share
Museus de migração pelo mundo – A Rede de Museus de Migração
Thiago Haruo Santos – Coordenador de pesquisa
Em 2019, uma série de museus dedicados ao tema das migrações decidiu formalizar uma rede internacional: a Migration Museums Network (Rede de Museus de Migração). Com o suporte técnico e acompanhamento da Rede Internacional de Lugares de Consciência (ICSC), a iniciativa tinha como objetivo compartilhar ações e iniciativas de museus e lugares de memória que trabalham com o tema.
Atualmente composta por 26 museus e um membro acadêmico [1], a rede tem se articulado principalmente por meio de encontros periódicos, presenciais ou virtuais. Em termos de distribuição geográfica, nove organizações estão situadas na Europa, sete na América do Norte, duas na África, duas na América do Sul, três na Ásia e duas na Oceania.
Nesta publicação, compartilhamos algumas reflexões da arquiteta e urbanista Gegê Leme Joseph [2], apresentadas em um dos encontros da rede em 2020 [3]. Joseph propõe uma interessante categorização cronológica dos lugares de memória dedicados à migração e observa como, desde a década de 1980 — quando as primeiras instituições começaram suas atividades —, houve uma mudança conceitual significativa no foco de trabalho. Se os primeiros museus surgiram com foco na “imigração”, nas décadas seguintes surgem lugares de memória voltados à “emigração” e, mais recentemente, à “migração” de modo mais amplo, incluindo deslocamentos forçados.
Ao longo do texto, disponibilizamos os links de cada museu mencionado para que você possa conhecer melhor o trabalho dessas instituições.
Imigração como conceito fundador
Dentro da rede, a primeira geração de museus dedicados à mobilidade humana surgiu nas Américas, na Ásia e na Oceania. A instituição mais longeva nesse eixo é a Sociedade Histórica Chinesa da América, criada em 1963. Esses museus foram fundados, em sua maioria, em países que foram destinos migração internacional massiva entre os séculos XIX e XX. Suas narrativas buscavam valorizar a participação das pessoas migrantes na construção das nações, com forte apelo integrador. Como destaca Joseph, muitos desses museus estão localizados em antigos espaços de recepção e encaminhamento de migrantes — como é o caso do Museu da Imigração do Estado de São Paulo.
Museus deste grupo:
Sociedade Histórica Chinesa da América, 1963 (https://chsa.org/)
Fundação Estação de Imigração de Angel Island, 1983 (https://www.aiisf.org/history)
MUNTREF Museu da Imigração – Argentina, 1985 (https://untref.edu.ar/muntref/es/museo-de-la-inmigracion/)
Museu da Migração – Austrália, 1986 (https://migration.history.sa.gov.au/)
Museu Wing Luke, 1987 (https://www.wingluke.org/)
Museu Tenement, 1988 (https://www.tenement.org/)
Museu Nacional da História da Imigração – França, 1990 (https://www.palais-portedoree.fr/le-musee-national-de-l-histoire-de-l-immigration)
Espaço Minas de Carvão de Hannover, 1995 (https://zeche-hannover.lwl.org/)
Museu da Imigração Dinamarquesa, 1997 (https://furesoemuseer.dk/english/)
Museu da Imigração – Melbourne, 1998 (https://museumsvictoria.com.au/immigrationmuseum/)
Museu da Imigração do Estado de São Paulo, 1996
Museu Canadense da Imigração no Pier 21, 1995 (https://pier21.ca/)
Museu Nacional Árabe-Americano, 2005 (https://arabamericanmuseum.org)
Museu e Arquivo dos Trabalhadores das Plantações de Chá – Sri Lanka, 2007 (https://www.isdkandy.org/)
Emigração como conceito fundador
A partir da segunda metade dos anos 2000, surgiram museus com foco na emigração, majoritariamente na Europa. Essas instituições resgatam a memória da saída de milhões de europeus rumo a outros continentes, mas também dialogam com os atuais contextos migratórios do continente.
Museus deste grupo:
Centro de Emigração Alemã, criação iniciada em 1985 (https://www.bremerhaven.de/en/)
Mu.MA – Museus do Mar e da Migração (Itália), 2005 (https://www.museidigenova.it/en/muma)
Red Star Line Museum (Bélgica), 2013 (https://redstarline.be/en/)
Museu da Emigração de Gdynia (Polônia), 2014 (https://polska1.pl/)
EPIC – Museu da Emigração Irlandesa, 2016 (https://epicchq.com/)
Migração ou deslocamento forçado como conceitos fundadores
Mais recentemente, surgiram museus — ou transformações institucionais — cujo foco principal está nos deslocamentos forçados, no colonialismo e em processos de resistência. São instituições que abordam a mobilidade humana em suas múltiplas dimensões históricas e políticas, reconhecendo as formas como a mobilidade humana moldou o mundo e continua sendo atravessada por assimetrias e violências estruturais.
Museus deste grupo:
Museu da Migração – Inglaterra, 2013 (https://www.migrationmuseum.org/)
Museu da Partição – Índia, 2016 (https://www.partitionmuseum.org/)
Museu do Tibete, 1998 (https://tibetmuseum.org/)
Casa dos Escravos – Senegal, 1962 (https://www.sitesofconscience.org/membership/maison-des-esclaves/)
Conselho de Museus e Monumentos de Gana, década de 1970 (https://www.ghanamuseums.org/)
FENIX – Museu da Migração e Escravidão, Países Baixos, previsto para 2025 (https://www.fenix.nl/en/)
A categorização proposta por Gegê Leme Joseph mostra que os museus de migração ao redor do mundo não apenas documentam a mobilidade humana, mas também respondem a contextos históricos e políticos distintos. Do foco inicial na “imigração” para “emigração”, “migração” e “deslocamento forçado” mostra mais uma mudança conceitual, do contexto de surgimento dessas instituições, do que recortes temáticos assumidos. Na maior parte dessas instituições, esses diferentes conceitos são trabalhados, respondendo às conjunturas locais e movimentos colocados pelo debate público. Ao conhecer esses museus, reconhecemos a importância de narrativas plurais para compreender como os movimentos humanos continuam a moldar identidades, territórios e sociedades.
Crédito da foto de abertura: Museu da Imigração do Estado de São Paulo
Referências
[1] https://www.instagram.com/migrationmuseumsnetwork/
[2] Coordenadora da Rede de Museus de Migração à época.